quarta-feira, 28 de julho de 2010

QUEM ME DERA...



Quem me dera fosse um vendedor de sonhos: vendê-los-ia aos inexpressivos.
Quem me dera fosse uma torrente bravia: lavaria a toda esta circunferência conspurcada.
Quem me dera fosse um vendedor do meio-termo; pô-lo em balanças
Com o escopo do equilíbrio entre a ojeriza e o deleite.
Quem me dera...
Quem me dera fosse um noctâmbulo no percurso dos dias vetustos, dos dias corruptos,
Dos dias abruptos. Quem me dera fosse o início e o fim de algo qualquer,
Sendo as vísceras apenas um oco imaturo; ou feixes escuros e turvos.
Quem me dera fosse acalentado por espáduas femininas ao invés deste formato
Irregular que nos consome massificamente.
Quem me dera...
Quem me dera pudesse transformar toda esta concretidão visível, arrancar fora a fome esgarçada
Nas têmporas infantis; pintar, multicoloridamente, todo este ar teso-cineriforme.
Quem me dera...
Quem me dera fosse o progresso, rente a este retrocesso caudaloso,
Rente a este antagonismo superficial, rente a este vão-material.
Ah, deveras, quem me dera...
Anderson Costa



Um comentário:

  1. "Quem me dera fosse o progresso, rente a este retrocesso caudaloso" serio isso ta muito bom !!! gostei muito do seu blog , to seguindo =)
    vou sempre dar uma passada aqui pra ver essas otimas poesias
    Parabenss

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