sábado, 5 de junho de 2010

CARTOMANTE



Cartomante,
Diz-me tudo sobre a
Escuridão,
Desvenda o que se
Esconde num candeeiro
Solitário.
- infortúnio de um viver malogrado.

Cartomante,
Diz-me.
Diz-me os cânticos deste Brasil
De mil ares e venenos,
De presas e tentáculos.

Candeeiro solitário
Que guarda o Brasil
Em si,
Em mim.
Cartomante,
Adivinhes o futuro
Daquela ponte.
Aquela onde há
Suítes abaixo,
Pés descalços.

- alimentos não perecíveis.
-realidade que silencia.
Cartomante,
O que vês?
- burgueses e fregueses.
Quanto custa a fome?
Quanto custa o sono?
Quanto custa o descaso?

- não sei!
- não sei!
Tatear que ensurdece.
Mãos ásperas dum verdugo.
Brasil, tu és rechonchudo
E majestoso.
Teus filhos, macérrimos,
Paupérrimos.
Paupérrimos.
Anderson Costa

sexta-feira, 4 de junho de 2010

DEMOCRACIA, APENAS.



Todos os dias me pergunto, às vezes minhas próprias perguntas me confundem...
Ainda não entendi o porquê do abraçar esta pseudo-democracia que não passa duma
Oligarquia enclaustrada.
Ainda não entendi porque a demasiada emoção pelo instante fugaz.
As estrelas me ensejam, mas ainda não conseguir ensejar algo ou alguém.
Ainda não me conformo com a não busca da ideologia consentânea, todavia com
O que me interessa naquele momento.
Dá-me uma cesta básica que terás meu voto.
Dá-me uma grade de cerveja que terás meu voto.
Dá-me uma lata de leite que terás meu voto.
Todavia, em troca terei quatro anos de fome, de salário atrasado, de reclamações à parede que me vira as costas nas horas em que mais preciso.
Porventura, alguém aí ainda possui alguma ideologia, ou será que as ideologias estão estafadas sobre o rosto duma micareta agasalhada pela borra comercial que aliena meus companheiros em prol da bestialização e acomodação, fincando cada qual no seu sofá enquanto o fétido cheira no sistema bicameral federativo?

Anderson Costa

quarta-feira, 2 de junho de 2010

HOJE



O subdesenvolvimento dos meus sentires
Ou talvez de minha repugnância,
Deixa-me insatisfeito para comigo e
Para com os outros, absortos nas
Congestões sem vislumbres,
Na veraz ametria, funda ao rosto
Do tempo esgotado pelo limite
De segunda a domingo.
Às vezes me irrito sem haver
As vezes que me regozijo.
Sem percebermos, somos comuns
Diante da merda que nos circunda,
A encalçar nossos passos a borra
Comercial.
Mas o sossego me olha no chegar
Da noite,
Quando suplanto o cricrilar no
Sofá que namora minhas sestas,
A ouvir Bach, Mozart, Rachmaninov,
Corelli, Albinoni, etc…
A ler um pouco do Gullar e do
Drummond.
Vês?
Sou supérfluo igual a todos.
Ao acordar, lavo meu tormento
Sem me importar com
O ciúme da parede pintada de
Amarelo.
Subo quase todos os dias a Rua Afonso
Pena, embebido pelo álcool (não porque o bebo,
mas porque o bebem),
Sem o fedor dos indigentes que é luxo
Para minhas narinas modéstias.
Mas o que é portentoso não me convém.
Sigo no caminho sem vontade de trabalhar,
Sobre o pensar a pensar na vendedora de
Café, próxima aos vendedores ambulantes,
Simples, sem diploma universitário.
Animo-me ao vê-la no mocho da humildade,
Tentando entender porque há tanto desfile no
Percurso ao trabalho,
Tentando entender à empáfia de escopo monetário.
18h00min.
Retorno de um lugar desconhecido,
Acalmando-me com a iluminação dos postes
Ordenados.
Volto para casa tentando encontrar alguma
Simplicidade.
Chego triste em ojerizas.
Retorno ao Bach, Mozart...
Retorno ao Drummond...
Retorno à simplicidade confortante do
Quarto onde moro.

Anderson Costa